Entrevista à Coordenadora Nacional de Portugal, Carla Jorge da Agência Portuguesa do Ambiente

Qual o seu papel na campanha SEMANAEUROPEIADAMOBILIDADE?

Em Portugal, a Agência Portuguesa do Ambiente assegura a coordenação nacional deste projeto e assume a responsabilidade técnica e executiva da campanha, desde a sua primeira edição em 2000, na altura, apenas o Dia Europeu Sem Carros, a 22 de setembro. 

Exerço funções no âmbito desta campanha, desde 2003, e, de acordo com as diretrizes europeias da campanha e as orientações superiores da tutela, proporciono apoio técnico, administrativo e operacional junto dos intervenientes locais.

 

Portugal conseguiu a participação de mais 33 municípios nesta edição da SEMANAEUROPEIADAMOBILIDADE. Como foi possível chegar a esse número?

Sim, relativamente a 2017, verificou-se um aumento de 53,23% na participação (95 em 2018, 62 em 2017). Portugal obteve, assim, a maior participação de sempre, ultrapassando os 73 municípios, a maior adesão até à data, registados em 2014.

Acredito que os contactos personalizados, em grupo e individuais, foram bastante eficazes este ano. Tentou-se uma abordagem o mais próxima possível dos municípios, incluindo dos que nunca participaram, e que ainda perfazem 43% do total dos municípios portugueses, e daqueles cuja última adesão se verificou há alguns anos. O maior problema, nestes casos, é a inexistência de um interlocutor privilegiado, ou contactos desatualizados o que inviabiliza que a informação chegue ao desejável destinatário.

Assim, a atualização da nossa mailing list e dos eventuais interlocutores, contactos telefónicos regulares e envio frequente de e-mails em tempo útil, ou seja, bastante antes da realização da iniciativa e de forma muito mais insistente do que em anos anteriores parecem ter sido algumas das razões para um maior sucesso desta edição.

Por fim, não podemos esquecer a importante estratégia desenvolvida este ano e que assegurou um contacto privilegiado e direto com técnicos de vários municípios (117 participantes), através da realização de 5 Workshops Regionais. Estes workshops contaram com a colaboração da Coordenação Europeia num esforço concertado com a Agência Portuguesa do Ambiente e penso que foi um excelente “motor de arranque” para a campanha de 2018.

 

Porque acha que as cidades e vilas participam na SEMANAEUROPIA DA MOBILIDADE?

Fazer parte deste projeto europeu pode trazer oportunidades como, a promoção de políticas existentes, iniciativas e melhores práticas relacionadas com a mobilidade urbana sustentável; uma maior consciencialização dos cidadãos relativamente aos danos que a atual tendência da mobilidade urbana gera no ambiente e na qualidade de vida; a concretização de parcerias eficazes com agentes socioeconómicos locais; o lançamento de novas políticas a longo prazo e das tão importantes medidas permanentes que se conservam muito para além da semana de 16 a 22 de setembro e têm assim resultados visíveis em termos futuros; a possibilidade de testar medidas e auscultar os cidadãos e sensibilizá-los para as crescentes preocupações sobre alterações climáticas, qualidade do ar ou segurança rodoviária.

Acredito que as iniciativas de cada município em prol de uma mobilidade mais sustentável se enquadradas num projeto europeu, acabam por ter muito maior visibilidade, a sua divulgação é muito maior permitindo uma sensibilização bastante mais eficaz e permite ainda a oportunidade das autoridades locais se inspirarem e aprenderem também umas com as outras, podendo replicar ideias ou adaptá-las nas suas localidades.

 

Quais os desafios com que se depara para que os municípios portugueses participem na SEMANAEUROPIA DA MOBILIDADE?

Penso que o maior desafio é conseguir a divulgação desta campanha, de forma esclarecedora, eficaz e direta a todas as Câmaras Municipais. O contacto regular e personalizado, ao longo de todo o ano, é extremamente importante. Numa primeira abordagem adequar a mensagem às realidades e necessidades locais é também crucial.

Por outro lado, mudar mentalidades é sempre um processo demorado e consciencializar os cidadãos para os efeitos que a sua escolha de um modo de transporte têm na qualidade do ambiente e comprometê-los a uma mudança é mais difícil se, por parte do poder local não existirem políticas de transporte eficazes e que facilitem e permitam escolhas mais sustentáveis de deslocação. É assim, portanto, necessário um trabalho e esforços concertados.

Encorajar a mudança de comportamentos compatíveis com o desenvolvimento sustentável e, neste caso em particular, com a proteção da qualidade do ar, com a mitigação do aquecimento global e com a redução do ruído é atualmente uma preocupação da grande maioria das cidades e, portanto, é crucial alterar os padrões de mobilidade instalados nas últimas décadas e invertê-los em prol de uma mobilidade mais sustentável.

 

Que desejos tem para a edição de 2019, em Portugal?

Conseguir manter o número de participações verificado este ano ou, se possível, envolver ainda mais municípios e por conseguinte mais cidadãos é, sem dúvida, uma enorme esperança. Aumentar a média de medidas permanentes implementadas por município é também um objetivo. Para tal, gostaria que se repetissem os workshops regionais, cuja divulgação será bastante mais alargada já que a mailing list foi atualizada e a base de dados se encontra bastante mais completa o que também possibilita a disseminação das sessões informativas através da colaboração de outros parceiros. E nunca é demais afirmar que o envolvimento direto através de uma participação ativa do Secretariado Europeu assegurando a sua presença nestas sessões seria também, sem dúvida, um ponto forte. 

De qualquer das formas é sempre importante sublinhar que, no final, a decisão de participar cabe aos municípios, pelo que nunca é demais a sua motivação e implicação para o que contribuiremos de forma empenhada.